segunda-feira, dezembro 12, 2005
A Rã e o Escorpião
Parado ao sol, o escorpião olhava ao redor da montanha onde morava.
"Tenho de me mudar daqui" - pensou.
Esperou a madrugada chegar, lançou-se por caminhos empoeirados até atingir a floresta. Escalou rochedos, cruzou bosques e, finalmente, chegou às margens do rio largo e caudaloso.
"Que imensidão de águas! A outra margem parece tão convidativa... Se eu soubesse nadar..."
Subiu longo trecho da margem, desceu novamente, olhou para trás. Aquele rio certamente não teria medo do escorpião. A travessia era impossível.
"Não vai dar. Tenho de reconsiderar a minha decisão" - lamentou.
Estava quase a desistir quando viu a rã sobre a relva, bem próxima à corrente. Os olhos do escorpião brilharam:
"Ora, ora... Acho que encontrei a solução!" - pensou rápido.
- Olá, rãzinha! Diga-me uma coisa: você é capaz de atravessar este rio?
- Claro, já fiz essa travessia muitas vezes até a outra margem. Mas por que pergunta? - disse a rã, desconfiada.
- Ah, deve ser tão agradável do outro lado - disse – tenho pena de não saber nadar.
A rã já estava com os olhos arregalados: "será que ele vai me pedir...?"
- Se eu pedisse um favor, você me faria? - disse o escorpião mansamente.
- Que favor? - murmurou a rã.
- Bem - o tom da voz era mais brando ainda - bem, você carregava-me nas costas até a outra margem?
A rã hesitou:
- Como é que eu vou ter certeza de que não me vai matar?
- Ora, não tenha medo. Evidentemente, se eu a matar , também morrerei - argumentou o escorpião.
- Mas... e se quando sairmos daqui você me matar e saltar de volta para a margem?
- Nesse caso eu não cruzaria o rio e nao atingiria meu destino - replicou o escorpião.
- E como sei que não me vai matar quando atingirmos a outra margem? - perguntou a rã.
- Ora, ora... quando chegarmos ao outro lado eu estarei tão agradecido pela sua ajuda que não vou pagar essa gentileza com a morte.
Os argumentos do escorpião eram muito lógicos. A rã ponderou, ponderou e, afinal, convenceu-se. O escorpião acomodou-se nas costas macias da agora companheira de viagem e começaram a travessia. A rã nadava suavemente e o escorpião quase chegou a adormecer. Perdeu-se em pensamentos e planos futuros, olhando o enorme rio.
De repente deu-se conta que estava a depender de alguém. Reagiu, ergueu o ferrão.
A rã sentiu uma violenta dor nas costas e, pelo canto do olho, viu o escorpião recolher o ferrão. Um torpor cada vez mais acentuado começava a invadir-Ihe o corpo.
- Seu tolo - gritou a rã - agora nós vamos morrer os dois ! Por que fez isso?
O escorpião deu uma risada sarcástica e sacudiu o corpo.
- Desculpe, mas eu não pude evitar. Eu sou um escorpiao. Essa é a minha natureza.
Esopo
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
3 comentários:
Uma fabula actual , para ser lida e re-lida com muita atençao ! os encantadores de serpentes continuam a tentar enganar os incautos...! Mas esta-lhes na natureza !
Eu diria mais - Há 1ª quem quer, cai !...mas há 2ª só cai quem quer !...e como estamos a atravessar um periodo festivo, pessoalmente ... acredito cada vez mais no Pai Natal !
O "contas" do maior não vos parece o mordomo do Montgomery Burns?? Anda aos anos com ele às costas mas o patrão ainda não lhe foi à peida!!!! Frustração do caraças... por isso é que o gajo anda magrissimo... é do desgosto.
Enviar um comentário